... na beira da estrada, tá bichada ou tem marimbondo no pé!!!

terça-feira, 31 de março de 2009

Bye, bye, Zona Rural...

Gente, estou sem palavras. Demorei pra fazer esse post e fiquei pensando que muita gente não vai gostar, mas que se dane. O blog é meu e eu posto o que eu quiser. Pronto, acabou! Pelo título já deu pra perceber, né. Mais uma de Campo Grande, aquele fim de mundo. Nunca mais ponho meus saltos lá, eu juro!

Aconteceu que eu caí na besteira de ir a um show lá naquela lonjura e me arrependi muito. O show era da Maria Rita, mas eu já tinha visto o mesmo show, junto com uma amiga, lá na Fundição Progresso, na Lapa, e foi tudo de bom. Ficamos lá em cima, na primeira fileira, vimos e fotografamos tudo do melhor ângulo. Mas aí... inventaram de levar o show lá pra pqp, afinal de contas os habitantes da roça também merecem entretenimento. Sendo assim, minhas amigas de lá – que precisam se mudar com urgência, pelo amor – inventaram de ir ao tal do show. E pior: me convenceram a pagar pra ver aquilo. E a me despencar da minha casa pra lá no meio da chuva. Aí vocês me perguntam: mas se era o mesmo show, então por que um foi bom e o outro não?

Simples: porque tudo conspira contra Campo Grande, ou melhor, Campo Grande conspira contra si mesmo. O evento aconteceu assim: primeiro escolheram o pior lugar possível pra fazer o show. Um clube totalmente sem estrutura, apertado, um calor dos infernos, nem um camarim descente tinha. Sério, o camarim era uma parada aberta, que fecharam com cortinas mais finas do que as do meu banheiro. O camarote nem se podia chamar de “camarote”. Não tinha ar condicionado, não tinha buffet e nem bebida liberada. Nadaaa! Se o camarote era assim, imagina no meio do povo como estava. Tirei fotos do lugar e das pessoas sem noção para poder comprovar tudo o que eu digo, porque cada vez que falo mal de lá as pessoas reclamam e dizem que é um ótimo lugar pra se morar e coisa e tal. Dessa vez ninguém vai poder se defender, porque eu tenho provas e estou aqui no meu melhor estilo “Caco Antibes” pra dizer que odeio coisa de pobre. Depois colocaram um DJ pééééssimooo pra tocar antes do show, ninguém tava gostando daquilo. As pessoas vaiavam, reclamavam, mas mesmo assim estavam super ansiosas para ver Maria Rita, né. Só que a Maria Rita atrasou nada mais, nada menos do que quatro horaaaasss!!! E quando finalmente entrou no palco, cantou super rápido e foi embora. Fim.

Sinceramente, tudo bem que o lugar era uma merda e que o camarim também não prestava, mas fazer o público esperar quatro horas pra cantar correndo daquele jeito, foi uma falta de respeito. Mas levando-se em consideração que aquele camarim também era uma puta falta de respeito, ficou tudo em casa. Campo Grande não respeitou Maria Rita e Maria Rita não respeitou Campo Grande. É aí que eu digo que o lugar pratica autosabotagem (de acordo com a nova ortografia... hehehe...). Se fizessem uma coisa de boa qualidade nada disso aconteceria e os “eventos” de lá de fato poderiam ser chamados de Eventos, com letra maiúscula. Sei que não deu nem pra curtir o show, saborear o momento, as músicas, nada. Foi uma droga generalizada. Tudo lá é de baixa qualidade, até o site que tira fotos dos eventos. Vejam só se euzinha ia sair num site que se divulga través deste panfleto:

Desculpem a edição mal feita, mas ainda não descobri como se faz para tirar esse brilho da foto.

Jamais! Tratei de me esconder da foto. E depois eu entrei no site pra ver a foto que minhas amigas tiraram e adivinhem só: eu mandei a foto pra elas por e-mail, mas era impossível de abrir. Ninguém conseguiu abrir. Tô falando que não presta. Agora olhem só as fotos que tirei. Tinha de tudo, era gente cafona, gente sem noção, até a Rubra Rosa estava lá. Só Desculpem a edição mal feita, é que ainda estou aprendendo essas coisas de designer. Não está a oitava maravilha do mundo mas dá pro gasto. Escondi as caras das pessoas pra depois ninguém me acusar de uso indevido de imagem... rsrsrs...
A Rubra Rosa de Campo Grande. Pena que eu tive de esconder a cara de tacho da figura.
O chapéu até tá na moda pros mais alternativos, mas o desse cara era menor do que a cabeça dele.
Na min ha terra, o balde de bebidas é um balde de bebidas (dã!), de alumínio, mas esse aí é de lavar roupas, que nem um que tem aqui na minha área de serviço.
O camarote. Há quem diga que tinha buffet sim e bebida liberada, mas a julgar pela aparência de terraço de pobre, o buffet devia ser estilo churrasquinho de gato na lage e a bebida devia estar quente.
O camarim. Vendo isso dá até pra entender porque a Maria Rita quis sair correndo dali. ¬¬
Agora as cafonices das pessoas. Olha esse coletinho. Sem comentários. O look ficaria muito melhor e muito mais clean sem esse colete ridículo, só com a camiseta branca que combina super bem com jeans.
Pin up 1960. Reparem na combinação tosca de saia azul xadrez com blusa listrada vermelha e sapatilha xadrez vermelha e branca. O figurino está todo de mal: a blusa de mal com a saia que não quer ver o sapato nem pintado. E logo ao lado q emenda que saiu pior do que o soneto. Na tentativa de diminuir a cafonice (ou porque estava um calor do cacete), a pessoa deixou o sutiã de rendinha branca aparecendo.
Poncho de canga com estampa jamaicana. Sim esse tecido aí é de canga. E eu já disse que estava o maior calor? O que leva uma pessoa a usar um poncho num calor daqueles? E ainda por cima de canga? Pôôô...
Olha esse: sapato branco e blusa de seda estampada. Nem sei onde ele pensa que está, ainda tentei encontrar a época em que isso foi moda mas não achei. Acho que na verdade isso nunca foi considerado bonito. E reparem no detalhe do bolso: tem um pente de velho, daqueles que se enfia a mão pra pentear o cabelo, que os homens costumavam usar em 1800.

Bolsa de sofá, comprada no camelódromo a 10,00. Baratchénha e cafonééérrimaaaa. E prata já saiu de moda, é coleção passada.


Poi zé. Depois sou eu que falo demais. Depois dessa, Campo Grande novamente só em aniversário de amiga que não dá pra faltar. Até as reuniões da família serão repensadas. Beijos para todos e até a próxima.


sexta-feira, 27 de março de 2009

O fantástico mundo das webnovelas

Oi, gente. Quarto dia consecutivo de post, essa decoração nova realmente está me inspirando. Ontem eu estava aqui preparando o post sobre a Zona Rural que será publicado em breve e resolvi fazer uma expediçãozinha pela internet para buscar inspiração. Entrei em um site chamado Portal CG, badaladíssimo por lá já faz tempo. Achei o site meio fubá, não sei se pela minha implicância com o lugar ou se porque é fubá mesmo. Enfim... Lá tem uma sala de bate papo que está sempre vazia - sim, eu entrei pra ver qual era, afinal de contas não poderia falar sem saber do que estou falando... rsrsrs... - e vários links de coisas do bairro, comida, entretenimento, etc. Tem até a programação do cinema local que, diga-se de passagem, é péssimo. Aí no meio dos links tinha um de um blog e, como boa blogueira que sou, cliquei e fui ver do que se tratava. Para meu espanto o blog prestava e eu até salvei nos meus favoritos. É o blog do Felipe Cerquize e, pelo o que pude perceber, o cara é bem badalado em música e literatura. Sugiro aos locais que passem menos horas da tarde de domingo assistindo ao Faustão e deem uma lidinha nesse blog. Dali fui dar uma olhadinha nos links do Felipe Cerquize e no meio de um monte de coisas encontrei a cereja do bolo: webnovelas. Não resisti à curiosidade e cliquei, é claro. Nem sabia que isso existia, mas sim, são novelas feitas para serem exibidas na internet. Com capítulos e tudo. Elenco, tudo o que tem direito. Morri de rir, porque as histórias são bizarras demais da conta e os personagens são bem caricatos. Os nomes são estranhíssimos, parece até novela mexicana. E também para o meu espanto, alguns atores são até bons atores, melhores do que muitos globais que já estrelaram a novela das oito, como Mariana Ximenes e Thaís Araújo, que fazem todos os personagens ficarem iguais, dá até raiva. Fuxicando o site, entendi que também é coisa do Felipe Cerquize, mas não pude saber muitos detalhes porque está em manutenção, então nem todas as informações estão disponíveis. Sei que lá tem, além das webnovelas, um web programa chamado "Janela Discreta", provavelmente fazendo uma analogia com o filme Janela Indiscreta, de Hitchcock, que por sinal está na fila para ser assunto do blog. Não deu pra ver o programa, provavelmente por causa da manutenção do site, mas em breve pretendo voltar lá para tentar novamente. Tem também uns textos do Felipe Cerquize e umas coisas de teatro. O que eu mais gostei foram as webnovelas, que têm vinheta e tudo, além de serem engraçadíssimas. Tá vendo só como eu sei ser imparcial e, quando eu falo é porque tenho razão? Rsrsrsrs... Bem, por hoje é só. Beijos e até a próxima.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Tô famosa

Oi, gente! Realmente estou me superando, terceiro dia consecutivo de post. Hoje eu abri meu e-mail e tive uma surpresa: nossa super web designer me mandou um print screen do Google Imagens com uma foto minha! E detalhe: é a primeira foto que aparece ao digitar "Lara Gouveia".......... kkkkkkkkkkkk.......... Adorei! É a foto antiga que aparece, mas não interessa, sou eu arrasando no queijo. Aqui o print do Google. Essa super designer tá me saindo melhor do que a encomenda, acho que vou contratar sim, mas a pretensão salarial terá de ser discutida....... hehehe.......... Beijos para todos. (Eu causo.)


quarta-feira, 25 de março de 2009

Foto nova

Gente, olha que graça essa foto que eu ganhei de presente pro novo visual do blog. Quem fez foi minha primuxa Biankinha Beibe, na categoria super design talentosíssima. Super fofy. Gostei tanto desse novo visual que dá até vontade de ficar postando toda hora aqui, tanto que dessa vez me superei e escrevi ontem e hoje. Então é isso. Beijos para todos.

Novo visual

Oi, gente! Como vocês podem ver, depois de muito tempo, o blog finalmente ganhou o tão prometido novo visual. Não está lá a oitava maravilha do mundo, mas eu não sou nenhuma tecnology addict, então deixa assim mesmo que está muuuito melhor do que antes. Apreciem sem reclamar, por favor. O que aconteceu foi que hoje eu recebi, do nada, duas reclamações de pessoas que não se conhecem, ou seja, não foi combinado. Uma disse que o blog estava “entregue às moscas”, e a outra disse que “a laranja madura estava azeda”. ¬¬ Diante disso eu resolvi tomar vergonha na cara e fazer logo isso antes que o ano acabe e meu blog morra. Apesar de todo desleixo eu mereço palmas porque são três horas da manhã e eu estou aqui finalizando a atualização pra vocês. Só não consegui colocar o contador de visitas nem os marcadores de texto, se alguém souber, por favor, me ensine porque tá brabo aqui. Vou colocar ainda uma lista de livros e uma de filmes, mas para isso eu preciso ler os livros e ver os filmes, então esperem só um pouquinho. Tirei aquele monte de lixo de moda e beleza e coloquei uma listinha de blogs mais cult, podem visitá-los sem medo. Se eu achar por aí algum site interessante eu coloco também. Tem um post sobre a zona rural no forno, mas como envolve imagens e isso é novidade pra mim, ainda não deu pra terminar, mas logo ele será publicado. É isso. Espero que gostem da cara nova. Beijos para todos e até breve.

domingo, 8 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher

Oi, gente! Como hoje é o Dia Internacional da Mulher, resolvi dar uma pausa no meu "momento off" e postar algo sobre esse assunto. Essa semana eu recebi um e-mail da minha amiga Vegetariana com um texto muito interessante escrito por uma amiga dela, fazendo uma crítica à forma como a sociedade lida com o papel da mulher e à hipocrisia que cerca esse dia. O texto, que eu resolvi postar aqui com os devidos direitos autorais, deu o que falar. Um monte de gente respondeu a todos e virou quase um forum de discussão. O problema é que muitos não entenderam o significado do texto e o sentido usado pela autora. Para que isso não aconteça aqui e a coisa não vire bagunça, deixe-me explicar que a figura da rosa usada no texto se refere à sociedade como um todo, à hipocrisia da sociedade. Não quer dizer que nós mulheres não gostamos de ganhar rosas de alguém especial.
Para quem não sabe, o dia 8 de março é um dia que serve para marcar uma data histórica. Neste dia, do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica em Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher". Dito isso, leiam o texto pensando no real significado desse dia.
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Dispenso esta rosa!
Dia 8 de março seria um dia como qualquer outro, não fosse pela rosa e os parabéns. Toda mulher sabe como é. Ao chegar ao trabalho e dar bom dia aos colegas, algum deles vai soltar: "parabéns". Por alguns segundos, a gente tenta entender por que raios estamos recebendo parabéns se não é nosso aniversário (exceção, claro, à minoria que, de fato, faz aniversário neste dia). Depois de ficar com cara de bestas, num estalo a gente se lembra da data, dá um sorriso amarelo e responde "obrigada", pensando: "mas por que eu deveria receber parabéns por ser mulher?". Mais tarde, chega um funcionário distribuindo rosas. Novamente, sorriso amarelo e obrigada. É assim todos os anos. Quando não é no trabalho, é em alguma loja. Quando não é numa loja, é no supermercado. Todos os anos, todo 8 de março: é sempre a maldita rosa. Dizem que a rosa simboliza a "feminilidade", a delicadeza. É a mesma metáfora que usam para coibir nossa sexualidade -- da supervalorização da virgindidade é que saiu o verbo "deflorar" (como se o homem, ao romper o hímen de uma mulher, arrancasse a flor do solo, tomando-a para si e condenando-a -- afinal, depois de arrancada da terra, a flor está fadada à morte). É da metáfora da flor, portanto, que vem a idéia de que mulheres sexualmente ativas são "putas", inferiores, menos respeitáveis.
A delicadeza da flor também é sua fraqueza. Qualquer movimento mais brusco lhe arranca as pétalas. Dizem o mesmo de nós: que somos o "sexo frágil" e que, por isso, devemos ser protegidas. Mas protegidas do quê? De quem? A julgar pelo número de estupros, precisamos de proteção contra os homens. Ah, mas os homens que estupram são psicopatas, dizem. São loucos. Não é com estes homens que nós namoramos e casamos, não é a eles que confiamos a tarefa de nos proteger. Mas, bem, segundo pesquisa Ibope/Instituto Patricia Galvão, 51% dos brasileiros dizem conhecer alguma mulher que é agredida por seu parceiro. No resto do mundo, em 40 a 70 por cento dos assassinatos de mulheres, o autor é o próprio marido ou companheiro. Este tipo de crime também aparece com frequência na mídia. No entanto, são tratados como crimes "passionais" -- o que dá a errônea impressão de que homens e mulheres os cometem com a mesma frequência, já que a paixão é algo que acomete ambos os sexos. Tratam os homens autores destes crimes como "românticos" exagerados, príncipes encantados que foram longe demais. No entanto, são as mulheres as neuróticas nos filmes e novelas. São elas que "amam demais", não os homens. Mas a rosa também tem espinhos, o que a torna ainda mais simbólica dos mitos que o patriarcado atribuiu às mulheres. Somos ardilosas, traiçoeiras, manipuladoras, castradoras. Nós é que fomos nos meter com a serpente e tiramos o pobre Adão do paraíso (como se Eva lhe tivesse enfiado a maçã goela abaixo, como se ele não a tivesse comido de livre e espontânea vontade). Várias culturas têm a lenda da vagina dentata. Em Hollywood, as mulheres usam a "sedução" para prejudicar os homens e conseguir o que querem. Nos intervalos do canal Sony, os machos são de "respeito" e as mulheres têm "mentes perigosas". A mensagem subliminar é: "cuidado, meninos, as mulheres são o capeta disfarçado". E, foi com medo do capeta que a sociedade, ao longo dos séculos, prendeu as mulheres dentro de casa. Como se isso não fosse suficiente, limitaram seus movimentos com espartilhos, sapatos minúsculos (na China), saltos altos. Impediram-na que estudasse, que trabalhasse, que tivesse vida própria. Ela era uma propriedade do pai, depois do marido. Tinha sempre de estar sob a tutela de alguém, senão sua "mente perigosa" causaria coisas terríveis. Mas dizem que a rosa serve para mostrar que, hoje, nos valorizam. Hoje, sim. Vivemos num mundo "pós-feminista" afinal. Todas essas discriminações acabaram! As mulheres votam e trabalham! Não há mais nada para conquistar! Será mesmo? Nos últimos anos, as diferenças salariais entre homens e mulheres (que seguem as mesmas profissões) têm crescido no Brasil, em vez de diminuir. Nos centros urbanos, onde a estrutura ocupacional é mais complexa, a disparidade tende a ser pior. Considerando que recebo menos para desempenhar o mesmo serviço, não parece irônico que o meu colega de trabalho me dê os parabéns por ser mulher? Dizem que a rosa é um sinal de reconhecimento das nossas capacidades. Mas, no ranking de igualdade política do Fórum Econômico Mundial de 2008, o Brasil está em 100º lugar entre 130 países. As mulheres têm 11% dos cargos ministeriais e 9% dos assentos no Congresso -- onde, das 513 cadeiras, apenas 46 são ocupadas por elas. Do total de prefeitos eleitos no ano passado, apenas 9,08% são mulheres. E nós somos 52% da população.
A rosa também simboliza beleza. Ah, o sexo belo. Mas é só passar em frente a uma banca de revistas para descobrir que é exatamente o contrário. Você nunca está bonita o suficiente, bobinha. Não pode ser feliz enquanto não emagrecer. Não pode envelhecer. Não pode ter celulite (embora até bebês tenham furinhos na bunda). Você só terá valor quando for igual a uma modelo de 18 anos (as modelos têm 17 ou 18 anos até quando a propaganda é de creme rejuvenescedor...). Mas mesmo ela não é perfeita: tem de ser photoshopada. Sua pele é alterada ponto de parecer de plástico: ela não tem espinhas nem estrias nem olheiras nem cicatrizes nem hematomas, nenhuma dessas coisas que a gente tem quando vive. Ela sorri, mas não tem linhas ao lado da boca. Faz cara de brava, mas sua testa não se franze. É magérrima (às vezes, anoréxica), mas não tem nenhum osso saltando. É a beleza impossível, mas você deve persegui-la mesmo assim, se quiser ser "feminina". Porque, sim, feminilidade é isso: é "se cuidar". Você não pode relaxar. Não pode se abandonar (em inglês, a expressão usada é exatamente esta: "let yourself go"). Usar uma porrada de cosméticos e fazer plásticas é a maneira (a única maneira, segundo os publicitários) de mostrar a si mesma e aos outros que você se ama. "Você se ama? Então corrija-se". Por mais contraditória que pareça, é esta a mensagem. Todo dia 8 de março, nos dão uma rosa como sinal de respeito. No entanto, a misoginia está em toda parte. Os anúncios e ensaios de moda glamurizam a violência contra a mulher. Nas propagandas de cerveja e programas humorísticos, as mulheres são bundas ambulantes, meros objetos sexuais. A pornografia mainstream (feita pela Hollywood pornô, uma indústira multibilionária) tem cada vez mais cenas de violência, estupro e simulação de atos sexuais feitos contra a vontade da mulher. Nos videogames, ganha pontos quem atropelar prostitutas.
Todo dia 8 de março, volto para casa e vejo um monte de mulheres com rosas vermelhas na mão, no metrô. É um sinal de cavalheirismo, dizem. Mas, no mesmo metrô, muitas mulheres são encoxadas todos os dias. Tanto que o Rio criou um vagão exclusivo para as mulheres, para que elas fujam de quem as assedia. Pois é, eles não punem os responsáveis. Acham difícil. Preferem isolar as vítimas. Enquanto não combatermos a idéia de que as mulheres que andam sozinhas por aí são "convidativas", propriedade pública, isso nunca vai deixar de existir. Enquanto acharem que cantar uma mulher na rua é elogio, isso nunca vai deixar de existir. Atualmente, a propaganda da NET mostra um pinguim (?) dizendo "ê lá em casa" para uma enfermeira. Em outro comercial, o russo, garoto-propaganda puxa três mulheres para perto de si, para que os telespectadores entendam que o "combo" da NET engloba três serviços. Aparentemente, temos de rir disso. Aparentemente, isso ajuda a vender TV por assinatura. Muito provavelmente, os publicitários criadores desta peça não sabem o que é andar pela rua sem ser interrompida por um completo desconhecido ameaçando "chupá-la todinha". Então, dá licença, mas eu dispenso esta rosa. Não preciso dela. Não a aceito. Não me sinto elogiada com ela. Não quero rosas. Eu quero igualdade de salários, mais representação política, mais respeito, menos violência e menos amarras. Eu quero, de fato, ser igual na sociedade. Eu quero, de fato, caminhar em direção a um mundo em que o feminismo não seja mais necessário.... Enquanto isso não acontecer, meu querido, enfia esta rosa no dignissímo senhor seu cu.

Marjorie Rodrigues
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O texto recebeu muitas respostas idiotas de gente que não entendeu patavinas, mas também recebeu coisas interessantes que realmente merecem ser pensadas principalmente por nós, mulheres. Um dos comentários mais interessantes foi este enviado por um homem:
"Alô todos,
Gostei do texto, muito interessante, concordo amplamente com a autora. Entretanto, uma coisa me chamou a atencao. Se 52% da populacao brasileira é formada por mulheres e, se nao me falha a memoria, elas conquistaram o direito a voto em 1930, entao a explicação para o pequeno número de mulheres no nosso congresso ( e em outras situações onde haja algum tipo de eleição) é que mulher não vota em mulher.
Abraços ."
E ele tem toda a razão. Às vezes nós nem percebemos, mas lutamos por coisas e na prática fazemos tudo diferente. Precisamos pensar nisso, mas não só pensar, mudar de atitude para que nossas lutas e conquisatas realmente façam sentido. E que não só o Dia Internacional da Mulher seja um dia de reflexão para nós.